Frestas do Tempo
O tempo não para! É o que dizem. Será mesmo? Ou é outra a questão?
Não seremos os parantes, nós mesmos, numa recusa freqüente?
De não querer perceber, que passado e futuro são do presente
Apenas mais uma face, como mais uma carta, desse imenso baralho chamado Ilusão?
A poesia, uma lanterna, de maneira mui terna, nos guia sem medo
Por portas sem aldravas, amealhando palavras, formando tesouros
Fazendo mais leve este viver tão breve, pondo enfeites de ouro.
Através de uma rima, devassamos cortinas, vasculhamos segredos
O poeta – um elemento – é somente instrumento, a cumprir seu mister de cantar
Em verso ou em prosa, sujeito a uma glosa, amores sonhados, ou mesmo vividos.
É o primeiro a saber, se o seu cantar vale a pena; se é loura ou morena, a musa que o enleva.
Não se prende às correntes, deste tempo presente, se atira ao passado prá poder rebuscar.
Permite-se menino, sem muito siso, sem tino. Vai dizendo ao futuro: - eu derrubo este muro! Nada quero esquecido.
Já descobri de há muito, que dentro de um tempo sempre existe outro tempo – e sem nenhum contratempo - a ele a poesia me leva.
Um dia, conversando com meu pai, ele me falou de um déjà vu, dizendo com o seu falar simplório de sertanejo: - meu filho, as coisas se misturam dentro do tempo, há sempre uma grande confusão em nossas cabeças sobre as coisas do ontem, que muitas vezes se confundem com o amanhã. Mas, em realidade, é tudo um eterno hoje.
Vale do Paraíba, manhã de Terça-Feira, Novembro de 2008
João Bosco