Passeio astral
Que gosto bom experimento quando fecho os olhos, deitado, e deixo meu outro Eu a vagar.
Ele, de amarras isento, vai a qualquer lugar, permite-se de tudo, liberta-se, deixando o invólucro carnal a descansar.
Recoberto pelos outros cinco lençóis que o protegem, Meu Eu, diáfano, observa o desprotegido corpo a dormitar.
Um dúbio sentimento permeia de meu outro Eu o pensamento: o sentir-se liberto assemelha-se ao ato de abandonar.
O espírito anseia pela liberdade, no entanto, a bem da verdade, só através do corpo é que percebe a importância da divindade.
A matéria é pesada, densa; o espírito é solto, leve: este vivencia o eterno, o outro mergulha no Agora.
As trocas vão se fazendo, por vidas sem conta afora, independente de crenças – na morte o corpo perece – o espírito parte sem demora.
Meu corpo e meu outro Eu são parceiros, em vida, indissolúveis, um fio de prata nos une, no labirinto da Terra, mantendo nossa unidade.
Um momento todo especial, aquele quando ainda não estamos adormecidos e nem também acordados. Para mim, representa a comunhão entre o corpo e o espírito, simbolizada pelas manhãs em que o dia ainda não de todo nascido, mas já banhado pela luz do Sol, ainda permite a visão da Lua.
Vale do Paraíba, manhã da terceira Quinta-Feira de Abril de 2009
João Bosco