corpo mole
às vezes
na madrugada
meu corpo
é oco
minha
alma energética
se move
o exoesqueleto
permanece
no leito
sonolento
pensamento nulo
natação lunar
viajo
até
um vilarejo calmo
uma grota fresca
e honesta
casinhota
úmida e verde
do musgo
e das ervas
um velho
de face rasgada
nesgas antigas
olhos profundos
translúcidos
leves e finos
cabelos pálidos
balbuceava
segredos
que não cabiam
no oríficio
urbano da minha
orelha
como um
toca discos
velho
que exala
uma canção
macia e ruidosa
(mesmo quando
há o
simultâneo ruído
o produto final
amortece
os sentidos)
o velho
parecia
reger um concerto
permanecia longe
mas perto
tão longe
que eu
mal entendia
sua canção
tão perto
que sua íris
me conduzia
a uma
viagem plástica
poderia permear
aquela velha alma
mas não
saberia
decifrá-la
ainda não
havia entendido
a canção
tento
aproximar
os ouvidos
faço força
uma força extrema
oh céus
agora
meu dedos
movimentam-se
agora meus
olhos abrem
lentos
pulsação
quero voltar
quero voltar
quase
por pouco
pela primeira vez
estive perto
de uma verdade
absoluta
como a morte.