Poema Incognótico

Em versos personifico

Pois só em versos monto-me ao ufânico

Em estrofes clamo

Pois só nelas confronto-me ao aspirar

São através das linhas transcorridas...

Que me permito cravejar pelo que buscar

Que me permito traduzir noutro patamar

Nessas linhas mais que transcorridas, gestadas.

Ainda para além a ser, sentidas em alvitre.

Trazem em abertos fissuras, que dormiam logo a foz.

Fazem em retumba ecúleos.

Nascem e infecundam, todo campo espaço até longe vista.

Por ser verso, reclusa.

Palavra agrupada, danifica.

Por discursar em proposição-emoção, universaliza.

Tendem a abrigar-me ambigüidades.

Tendem a encobrir-me no manifesto irracional.

Lançam a sentir-me presente num solo nunca antes habitado.

E, por conseqüência, já não mais chego ao meu encontro.

O que é visto, é tido, o obscuro fundo.

Cada vez, ao fundo, afundo.

Jorra-se então de toda minha lírica um marejar.

Corre, foge, o tracejo da selva. (evito!)

Quando não mais o percebo:

Fundiu-se por gênese n’alma.

Também só, minha adjacente

[o que deveria ser parte simbiótica..

Volto ao escrever

Por não ser um risco, rabisco...

Ou um gerundiar cursante;

um particípio dissipado;

Eis um eternicídio submerso.

É eterno, posto que é vício.

É suicídio, posto que a morte é alternância.

Submerso, poucos apreciam, menos ainda, o sente.

Não mais se desinencia

Salta, imensuriza.

Escrever é jogar-se ao vulnerável.

É molhar-se de eu’s

é fazer do fônico-versado sinfonia apoteótica

Entrar em contato com o impalpável

Com o que não se vê, nem existe.

Com o que não se tem, tudo permite.

É se constituir e se ler de si, para si, em si.

É, sobretudo, invadir o sítio de interseção entre o transcendente e o imanente.

Implica, inegavelmente, no entrar em órbita, ao encontro mais profundo da perfeição.

Ramon Pestana
Enviado por Ramon Pestana em 21/10/2009
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