BELEZA MORTA REVIVIDA
‘De leve, louro e enlanguescido helianto’
Navegando amor sentido pelo seu pranto
‘Tens a flórea dolência contristada’
Fruto oriundo da solidão acalentada
‘Há no teu riso amargo um certo encanto’
Transparecendo no mais escuro recanto
‘De antiga formosura destronada’
Estampada na memória conquistada
‘No corpo, de um letárgico quebranto,’
Mesmo quando soluças tanto e tanto
‘Corpo de essência fina, delicada,’
É o produto de tua alma refinada
‘Sente-se ainda o harmonioso canto’
Sonoro, intenso, vibrante e melódico
‘Da carne virginal, clara e rosada’
Que perfuma até lá fora na sacada
‘Sente-se o canto errante, as harmonias’
Tanto nos satisfaz como numa sinfonia
‘Quase apagadas, vagas, fugidias’
Mesmo assim sabe guardar sua magia
‘E uns restos de clarão de Estrela acesa...’
Tudo clareia e incendeia até aos incautos
‘Como que ainda os derradeiros haustos’
A nos possuir e levar aos sobressaltos
‘De opulências, de pompas e de faustos,’
Cantadas em óperas, operetas e outros atos
Com a ajuda do solo de virtuosos contraltos
‘As relíquias saudosas da beleza...’
Cuidadas a sete chaves pela nobreza
Dueto: João da Cruz e Sousa, Poesia Completa & Hildebrando Menezes
Adaptado do poema original ‘BELEZA MORTA’ de Cruz e Sousa com os
versos de Cruz e Sousa em aspas.