LUBRICIDADE PODEROSA

‘Quisera ser a serpe venenosa’

Rastejando pelas encostas sinuosas

‘Que dá-te medo e dá-te pesadelos’

Até ao ponto de arrancar-te os pêlos

‘Para envolverem, ó Flor maravilhosa,’

No mais belo coito gostoso e voluptuoso

‘Nos flavos turbilhões dos teus cabelos.’

Fazendo deles e neles passeios com zelo

‘Quisera ser a serpe veludosa’

A penetrar na tua gruta tão sedosa

‘Para, enroscada em múltiplos novelos,’

E ali adormecer beijando-a dengosa

‘Saltar-te aos seios de fluidez cheirosa’

A acariciar teus mamilos cor de rosa

‘E babujá-los e depois mordê-los...’

Ao sugar com a fome de um bezerro

‘Talvez que o sangue impuro e flamejante’

Circule em minhas veias das tuas transfusante

‘Do teu lânguido corpo de bacante,’

Faminto dos teus carinhos inebriantes

‘Da langue ondulação de águas do Reno’

No mergulhar profundo, sutil e sereno

‘Estranhamente se purificasse...’

Ao contato esmaecido de uma prece

‘Pois que um veneno de áspide vorace’

Há que se ter um poderoso antígeno

‘Deve ser morto com igual veneno...’

À luz do dia ou ao raiar de um dia pleno.

Dueto: João da Cruz e Sousa, Poesia Completa & Hildebrando Menezes

Adaptado do poema original ‘LUBRICIDADE...’ de Cruz e Sousa com os versos de Cruz e Sousa em aspas.

Navegando Amor
Enviado por Navegando Amor em 09/10/2009
Reeditado em 02/04/2012
Código do texto: T1857365