LUBRICIDADE PODEROSA
‘Quisera ser a serpe venenosa’
Rastejando pelas encostas sinuosas
‘Que dá-te medo e dá-te pesadelos’
Até ao ponto de arrancar-te os pêlos
‘Para envolverem, ó Flor maravilhosa,’
No mais belo coito gostoso e voluptuoso
‘Nos flavos turbilhões dos teus cabelos.’
Fazendo deles e neles passeios com zelo
‘Quisera ser a serpe veludosa’
A penetrar na tua gruta tão sedosa
‘Para, enroscada em múltiplos novelos,’
E ali adormecer beijando-a dengosa
‘Saltar-te aos seios de fluidez cheirosa’
A acariciar teus mamilos cor de rosa
‘E babujá-los e depois mordê-los...’
Ao sugar com a fome de um bezerro
‘Talvez que o sangue impuro e flamejante’
Circule em minhas veias das tuas transfusante
‘Do teu lânguido corpo de bacante,’
Faminto dos teus carinhos inebriantes
‘Da langue ondulação de águas do Reno’
No mergulhar profundo, sutil e sereno
‘Estranhamente se purificasse...’
Ao contato esmaecido de uma prece
‘Pois que um veneno de áspide vorace’
Há que se ter um poderoso antígeno
‘Deve ser morto com igual veneno...’
À luz do dia ou ao raiar de um dia pleno.
Dueto: João da Cruz e Sousa, Poesia Completa & Hildebrando Menezes
Adaptado do poema original ‘LUBRICIDADE...’ de Cruz e Sousa com os versos de Cruz e Sousa em aspas.