Ideal e Realidade

Após os tenros
sonhos da infância,
depois da crença
em mudanças na adolescência,
por fim, toda idealização da juventude
a contrapor-se com a realidade.
E cheio de energia no corpo e na alma,
guerreiro pronto para o combate.
A viagem pelas doces ilusões.
A fé jovial que faz crer que tudo é possível.
Mas eis que a tenacidade do cotidiano
envelhece a tudo, mortificando os ideais.
Eis que o mundo real é impiedoso, 
eleva os espertos e rebaixa os ingênuos.
Eis que o lado prático
cerca com poderosas grades
as possibilidades do espírito.
E a humanidade criou um mundo
que diz ser de Deus,
mas que só serve para negá-lo.
E o dia virá em que toda a boa vontade
não resistirá à frustração, 
que será desilusão.
Nesse desiludir, as dúvidas
dos conceitos de bem e mal.
Muitas interrogações.
O mal parecerá tão elevado,
enquanto o que é bom
surgirá como vulnerável.
E o bem não surgirá
como meio para obter prêmio e mérito,
mas ideal do bendito.
Por ser bom, haverá de ser rejeitado.
Por ser reto, será perseguido pelos corruptos.
E pensando estar certo,
muitas vezes será julgado
como efetivamente errado.
E sendo límpido de coração, 
será tomado por impuro
pelos moralistas perversos.
E haverá de chatear-se.
Haverá de magoar-se.
Buscará a solidão, a hermitandade.
Conterá, amargurado, 
o impulso de integração
aos outros, por sentir-se prejudicado.
Na solidão buscará desenvolver forças,
tentará uma autossuficiência emocional.
E após pensar-se fraco,
descobrirá ter forças
que nunca imaginou abrigar.
E perseverante, retornará à luta, 
agora mais desperto
e cheio de desconfianças.
Ainda terá o coração das pombas,
mas seus olhos serão de serpente. 
Gilberto Brandão Marcon
Enviado por Gilberto Brandão Marcon em 09/10/2009
Código do texto: T1856794
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