DILACERAÇÕES CARNAIS...
‘Ó carnes que eu amei sangrentamente,’
Deixando escorrer o fio cósmico pela boca
‘ó volúpias letais e dolorosas,’
Que acessam e seviciam minhas entranhas fogosas
‘essências de heliotropos e de rosas’
Perfumando versos e prosas
‘de essência morna, tropical, dolente...’
A seduzir com sensual ternura vibrante
‘Carnes, virgens e tépidas do Oriente’
Que pulsa em minhas veias o fogo ardente
‘do Sonho e das Estrelas fabulosas,’
Que trafegam pelo espaço real e nebuloso
‘carnes acerbas e maravilhosas,’
Sacia a minha fome santa e tão propensa
‘tentadoras do sol intensamente... ‘
Vinde preencher o meu vazio e fazer o degelo
‘Passai, dilaceradas pelos zelos, ‘
Pouco a pouco me deixando louco
‘através dos profundos pesadelos ‘
Sem os tolos medos a esconder segredos
‘que me apunhalam de mortais horrores...’
Haveremos de compor nossos lamentos
‘Passai, passai, desfeitas em tormentos,’
Para chegar ao cais e içar as âncoras do sofrimento
‘em lágrimas, em prantos, em lamentos’
Aconchegados mostraremos nossos sentimentos
‘em ais, em luto, em convulsões, em dores...’
Vamos renascer cobertos pelo manto dos prazeres
Para resgatar séculos de injustiças e abomináveis preconceitos.
Dueto: João da Cruz e Sousa, Poesia Completa & Hildebrando Menezes
Adaptado do poema original ‘DILACERAÇÕES’ de Cruz e Sousa com os versos de Cruz e Sousa em aspas.