NO SILÊNCIO DA NOITE

O raio da estrela mais brilhante
ainda alcança
meu olhar sem rosto.
Atinge, silencioso,
os velhos copos de cristais
em minha cristaleira
já esquecida
num canto da sala.
Meu poema está bem guardado,
e dorme como príncipe
dentro do copo amigo.

Perder o brilho dos clarões
da noite
é como perder o brilho
da vida,
é como perder o sangue
e a ferida,
é como perder o rumo,
suicida.

Tudo o que tem sabor, são músicas esquecidas,
e o que me lembra sonhos
de uma noite escura,
são coisas que não podem ser perdidas.

A noite pode andar silenciosa
pelas calçadas da cidade.
Todas as juras de amor
que me fizestes um dia,
imortalizando fidelidade,
plantadas em nuvens de pedra pela eternidade,
foram perdidas
e lavadas pelas chuvas caladas da noite.

Quando o novo dia amanhece,
somente respingos e resíduos do temporal,
misturam-se ao silêncio dos guetos.
A cidade fica triste, abandonada,
pouquíssimos passantes entremeiam-se
aos cães diuturnos que vasculham restos de espetos.

A noite é um reflexo do copo de cristal
que flutua sobre nosso ritual.
Invertidos acordes, submerso canal.

É só...

Nossas palavras de amor
parecem mesmo ignoradas,
amanhecidas,
amareladas,
jogadas ao tempo e às lembranças
de nós mesmos.

Outras noites virão,
cíclicas, contrárias ao raiar do sol,
acompanhadas pelo belo clarão
do despertar das estrêlas.

Outras vezes
teremos a oportunidade
de lembrar
do nosso amor,
acima das águas rasas.
Acima de tudo,
infinito,
e pronto para amar.


- AVIENLYW - (27/06/2006)