Nas asas de Ícaro

Tenho uma dúbia, ambígua impressão: dessas bem fortes, impertinentes - daquelas de machucar.

Quando penso em quão frágeis somos, enquanto carne, e a imensa força que temos como espírito.

Proposição que levou à loucura homens como Nietzsche, e largou à deriva outros como Demócrito.

Mas, Nietzsche, mesmo tendo sucumbido, estava certo: é a ponte que liga o Homem ao Super-Homem que temos de atravessar.

Kant navegou em busca da pura razão, jogando as inúteis quimeras do incauto Schleiermacher em seu merecido desvão.

Veio então Schopenhauer, mostrando com soberba erudição, que só chega à metafísica quem mantém os pés no chão.

Ergueu sólido o edifício supremo da Vontade, mas, me vem como um bólido esta Verdade, para a qual não há contestação.

Todos beberam da fonte da Antiguidade, provaram de Pitágoras o conceito da Unidade e renderam culto ao grande Platão.

Hoje, em um dia qualquer, nos vastos anais desta jovem Terra, sou aquecido pelo mesmo Sol que inspirou Akhenaton, o visionário.

As mesmas estrelas zombam de minha pequenez, mantendo a mesma eterna altivez que encantou Salomão.

Ancoro minha nau, precavidamente, no porto de minha precária lucidez, diante do que não tenho explicação.

Nos Vedas já se falava de naves a voar. Nos Andes alguém se deu ao trabalho de aeroportos desenhar.

Procuramos vida em outros mundos, e pouco sabemos do nosso – sentimo-nos solitários.

-O que é ser feliz? Perguntam-me. Respondo que em nossa condição, só vislumbres de felicidade podemos vivenciar.

Quando nos chega a maturidade dos anos, e depois de muitas Luas vividas, alguns de nós sente algo similar a apatia; um certo ar blasé diante dos fatos. É um bom momento para observarmos a sapiência da Natureza em seu eterno devir; perceber que o espírito cresce através da (e com) matéria, um e outro parte indissolúvel do mesmo Todo.

Vale do Paraíba, manhã da terceira Terça-Feira de Fevereiro de 2009

João Bosco