ESPANTA-ME A MORTE
Espanta-me a morte
Sua inafastabilidade
Sua realidade
Seu caráter democrático
Espanta-me a morte
Espanta-me sua aceitação
E também sua não aceitação
Espanta-me sermos obrigados a experimentá-la
Espanta-me a morte
Quantas filosofias e religiões
Foram à sua custa erguidas
Contudo ninguém a decifrou de maneira definitiva
Espanta-me a morte
E o depois da morte
O que acontece com o corpo e com o espírito?
Se é que este último existe!
Espanta-me a morte
Posso explicá-la religiosamente, filosoficamente
Por meio da biologia
Mas nenhuma explicação é completa
Espanta-me a morte
Pois antes de mim muitos a questionaram
Depois de mim ainda questionarão
Sei que morrerei e ela não terá sido decifrada
Espanta-me a morte
Hoje espetáculo estrelado pelo outro
Amanhã o protagonista serei eu
E não se preocupe, amado leitor, sua hora também chegará
Sigamos o conselho do poeta Horácio
Carpe Diem! Quam minimum credulo posteriore
Aproveite o dia! Confia o mínimo no amanhã
A maior característica da realidade é a sua dureza implacável