As Mágoas e o Destino
 
Quantas vezes terei que morrer
para viver para sempre uma única vez?
E seria sensato divagar a razão
em trilhas que andam os passos da fé?
E por que de tantas perguntas
que nos tolhem o viver do dia-a-dia,
em prol de uma promessa futura,
de um delírio de harmonia sem fim?
Descrente de si,
descrente dos passos,

mas ainda assim amando,
porém duvidando
das possibilidades do amor.

Sabendo dos malefícios do ódio,
mas reconhecendo a sua tola utilidade.
E qual sentido tem tudo isto,
senão um eterno delírio,
uma sagrada loucura que nos provêm?
Alimenta-nos
de desconsolação contínua,

nos enche de um nada
que nos faz vazios,

que nos torna irrisórios
e, compulsoriamente, humildes,
de tal forma que a insensatez
tem lá sua graça.

E um insignificante segundo
pode agregar mais prazer
que toda uma vida.

E não sendo dissimulado,
ainda assim duvidando
da própria sinceridade.

Machucado pela amargura,
ferido pelo desânimo,
inquieto,
mas tendo que suportar
a falta de movimento.

Desejando o silêncio
e tendo o rugir dos pensamentos.

Contradições de nada adiantam,
tarde demais para tudo.

E no drama , a patética comédia de si.
Risos que não têm graça,
lágrimas que não valem a pena,

pois que é tempo de calar-se,
deixar os murmúrios cessarem-se,

pois que já esgotaram-se as horas.
E as horas nem ao menos existiam...

E eis o copo de vinho amargo,
eis o ébrio que não quer cair.

Eis a vontade abalada a lutar
contra a paciência da razão.

E por tanto querer, 
a exaustão de tanto querer.

Querer, assim,
saciar-se com muito pouco,

com quase nada, se possível.
Numa crença que não se sabe
sincera ou hipócrita,

pois que apenas vê
os dentes brancos do sorriso,

pois as pálpebras
guardam o brilho dos olhos,

esconde-os, nada deixam ver,
e tudo escondem.

Ocultam de todos, ocultam de si,
morrendo em mistério,
querendo esquecer-se,

pois não vale a pena lembrar.

Gilberto Brandão Marcon
Enviado por Gilberto Brandão Marcon em 24/08/2009
Código do texto: T1772195
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