MORTE

A morte virá ao meu encontro

Virá sem prenúncios

Antes quero vislumbrar os urubus

A adejarem ao sabor do vento

E a devorar as carniças

As águias a rapinar os filhotes de outros animais

As lavas incandescentes a sapecar as populações

Os carros engarrafados nas autoestradas

A névoa que cega os motoristas

As folhas ocultando as panteras

As brisas se transformando em furacões

Destruindo as cidades

Os maremotos que expulsam os invasores do litoral.

A morte virá inadvertidamente

Numa tarde

Ou numa manhã de céu claro

Airosa para todos

Indiferente para mim

Eu transfiro aos outros

O peso da responsabilidade de viver

Entrando no marasmo não mais me vejo

Não sinto um centímetro à frente

O soturno invade tudo

E eu nada mais sou.

O clarão está apenas fora

Lá tudo continua

Até que meus ossos sejam triturados

Até que os vermes dêem cabo de minhas carnes

Muitos mundos se extinguirão

A terra com seu sadismo infrene

Simplesmente deglute as criaturas

Uma a uma.

JOEL DE SÁ

04/07/2009.