DUPLO DESABAFO
Antes que ao pó eu retorne
E que o caldo entorne
Registro a vida
No que é mais sentida
Em pequenos relatos...
Narro nosso desabafo
E se, sem querer, desacate
Ou aos teus olhos maltrate
Os recatos de quem
indigne-se com os fatos,
Ocorridos nos traçados
Ou apenas versados
Talvez seja porque não houvesse
No ocorrido se decepcionado
Por algo sutil do mencionado
Com a incoerência dos atos,
E seus sucedâneos inconfessados
Mas agora abordados e explicitados
Do que era envolto em redoma de vidro
Alheio a tudo, meio distante e perdido
Pedindo que fosse agora manifestado
Antes que em cinzas me torne
Ou mesmo um dia qualquer retorne
Tentarei descrever esse mundo restrito;
Enquanto alma eu tiver, não for contido
Para que não fique o dito pelo não dito
Vou aqui escrever o que eu puder
Não calarei nem sufocarei esse grito
Que não há existência sem dor
Caminho sem pedra, rosa sem espinho.
É necessária passagem de valor
Amar é a beleza da vida,
mas também é chorar.
Por mais que possa ser sofrida
e sangrar a ferida.
O mundo é um círculo vicioso
Por vezes virtuoso e curioso
Por que circula furioso
Sem nunca chegar...
À desejada e esperada morada
Nem bem se inicia a partida
Vemo-nos de novo na lida
Temos que voltar para recomeçar...
São raros os momentos felizes
que tentamos segurar e roubar
para poder eternizar...
E tantos os infelizes
que pensamos passar,
mas que se eternizam.
Escrevo aquilo que vejo,
que sinto, que penso,
dos atos e desatinos
Do que já passei...
Rebobino idos desejos
Não é a verdade que almejo,
o sonho que sonho,
do que acreditei... E apostei.
E a quem indigne meus traços
Só lamento, mas não os desfaço
Ensine-me a crer ou descrer desses fatos;
Talvez esses meus olhos tristes
Anseiem quebrar fronteiras e horizontes
Mas que ainda me impeçam de ver
Ali à frente... Que a felicidade existe.
Dueto: Carmen Lúcia & Hildebrando Menezes