Brados Elucubrados!
Um dia farei parte do pôr do sol
Mais que fragmento no firmamento
Serei uno das partes amalgamadas
Viverei nas profundezas do mar
Estarei num canto de algum recanto
No bico solto e musicado do rouxinol
Serei então a eloqüência dos pássaros
Suas penas alçadas em vôos alados
Uma estrela... Um astro... Uma galáxia
Estarei no alto penhasco mais íngreme
Na gruta profunda de um cintilante rio
Em pedras angulares e afiadas de um veio
Manuseada pelas mãos de um garimpeiro
Artesão simples de espécies bem preciosas
Estarei na terra e no ar e também no luar
E contudo e para tudo, no caminhar
Na plenitude do amor a conquistar
Também na inquietude da juventude
Pousarei a volúpia e a dócil solicitude
A elegância do desfilar e do se postar
No aconchego gostoso da velhice
Após vencer as tolices e mesmices
Que é o legado de alguns homens
Desbravadores de fronteiras e horizontes
Serei pleno e serás plena um no braço doutro
Serenos e amenos só se amando... Apenas!
Serei o tudo e o nada sem quaisquer dilemas
Vestidos das vestes do amor a evitar problemas
Mãos dadas com a paz, à alegria e a esperança
Sorriso limpo, franco, aberto como de criança
No momento em que meus olhos se fecharem
E que meu corpo baqueado perder o calor
Não haverá lágrima alguma na face a derramar
Nenhum regozijo a escancarar ou contemplar
Por que ninguém vai se lembrar do que fui
Do que fiz, falei, construí, sonhei, possuí... Nada!
Por que se hoje nada sou, amanhã nada serei
Então por que alimentar orgulho e vaidade?
Talvez seja apenas o sopro de uma proeza
A viver, a sonhar, a poetar, a morrer de beleza
Enquanto não chega a certeza sou na morte a vida.
Dueto: Roberta Teperino e Hildebrando Menezes
Nota: Inspirado na série “Amores Etéreos” p. 41