Vozes da guerra I
Lembro-me
do pavor por toda à parte
tombado em combate
os pés despidos, dispostos
prontos para a partida.
Os braços a postos
transportando meu corpo
partindo sem porto...
sem despedida...
Lembro-me
da sepultura, de lapidar brancura
do meu peito baleado
duplamente despedaçado
da imprudente bravura
impiedosamente abatida
por uma bala perdida
apenas uma bala.
Lembro-me
de vagar por um tempo
sem pão, sem provento
No desespero que a solidão espalha
percebi que para mim
acabara a batalha.
Procurei libertar-me
do peso nos ombros,
procurei dispensar-me
de buscar nos escombros
pelos sobreviventes.
Ainda um sopro me basta
com ele sobrevivo
com ele prossigo.
Não peço respostas
neste bosque sem portas
peço um abrigo
um pouco de paz e bondade
capaz de permitir-me experimentar
a liberdade.