O Arrependimento de Caim


 
Do Pai quero o afeto,
de ti quero o reconhecimento.
É como se fosse necessário
que tu destes o aval para meu valor,
mas tu és saber e generosidade,
Desejas me ensinar
a encontrar sozinho o meu valor.
Guia-me para o Pai
e me diz que é o Seu afeto
que nos justifica.
Como fui pequeno quando
julgava-me cheio de grandeza!
Como meu orgulho
fez-me escravo da glória!
Como minha vaidade
fez-me concorrer
com quem era maior do que eu!
Perdoa a têmpera férrea
e amarga da minha alma.
Por desejar ser amado,
creio que muito feri.
Por ser franco e forte,
demorei-me em aprender a humildade.
A fraqueza do corpo filtrou-me o orgulho
de ter força na alma.
Irmão querido,
ergue-me para o teu voo,
informa ao Pai
que esforço-me em ser filho.
Diga a Ele que hoje busco
o mérito por justiça
e não mais por orgulho.
Fala a Ele que tenho vontade de desistir,
mas que a grandeza dos que me auxiliam
consegue erguer-me
quando, com asas quebradas, caio ao chão.
Mano velho, meu primeiro irmão,
como foi difícil para mim ser irmão!
Quanta dor foi necessária
para curvar-me para a Lei do Pai.
Perdoa-me o orgulho
e a arrogância renitentes,
mas hoje confesso
que via neles meio
para defender-me das minhas vulnerabilidades.
Não entendia a preferência do Pai,
mas hoje sei que Ele não escolhia
por desprezo a um e preferência pelo outro,
mas apenas realizava a justiça da vida,
elevando quem estava
no momento de ser elevado,
rebaixando quem desejava
elevar-se antes da sua hora.
Estranhas são estas linhas,
mas tenho necessidade de escrevê-las.
Elas fazem parte do livro oculto
ao qual só a vida futura dará lastro ou não.
Gilberto Brandão Marcon
Enviado por Gilberto Brandão Marcon em 20/05/2009
Reeditado em 07/03/2020
Código do texto: T1604792
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