o maior mentiroso
abstenha-te de olhar
languidamente para os prédios na avenida
ninguém estará te percebendo
ninguém estará se comovendo
com a impressão de importância
que pareces dar à vida
abstenha-te de ligar
sistematicamente pra mim
não vou achar que me queres tanto
ou que não me queres – só disfarças
a farsa é uma contingência
que está sempre comigo
abstenha-te de não comer
usualmente pouco durante as refeições
as pessoas não vão ligar
se tens educação
ou se é só demonstração
abstenha-te de ir
repetidamente ao teatro
não encontrarás o ato da tua vida
nem a diversão estará no abstrato
sentido do que consideras
abstenha-te de levar
muitas vezes o teu filho ao Zoológico
é ilícito imaginar que à sensatez da criança
passa despercebido o jogo malicioso dos animais
por trás de atitudes aparentemente inocentes
o que interessa à criança
é a prova da amargura do medo
que a acompanhará pelo resto da vida
abstenha-te finalmente de prestar
atenção ao que falo
sabes que reiteradamente me escalo
como o maior mentiroso do mundo
Rio, 05/05/2009