INVENÇÃO & ENGRENAGEM

Supomos mapas e continentes e chips e deuses

E não supomos como tocar a mão que desenha

Signos e inventa fonemas quando o coração

Dói...

Supomos planetas mais que distantes e nanos

E quantas e a samambaia espera aflita o doce

Teor do som da água escorrendo pela pele

Verde e em estado de clorofila...

Supomos lasers interferindo em cérebros

Que transformam células em clones sutis

Sem coreografias ensaiadas e o pássaro busca

A antiga árvore que jaz tombada sob um jazz

Célere e motorizado...

Supomos conhecer a névoa cósmica que opera

Milagres infinitos e que dança dentro da via

Mais láctea que distante e o fio tenso

Da escrituração balança seus nervos

E chacoalha a toalha onde os anjos almoçaram

Sonhos e se empanturraram com poemas

Recobertos de sorrisos e arrepios...

Supomos criar o ser celeste em forma de pão

E éter e a máquina que transportará alguém

Daqui para lá e os beneditinos e tarquínias

E valsadores de antigos tempos e reis

Não como Lear e não traidores e não Iagos

E ontem um filho da água chegou à terra

E perguntou ao Rei dos Homens o que fazer

Para que os peixes não percam o único templo

Onde rezam oxigênio...

Supomos e pomos e tiramos pomos adâmicos

Da garganta que canta a única Ária-Esfera

Dentro do ciclo que se encerra quando inventamos

Os pedais da Bicicleta-Terra que nos levará

Para a última viagem dentro do Corpo-Universo

Que curva o tempo e o espaço e move a engrenagem.

Preto Moreno