Duas partes...
Uma parte de mim
é todo mundo: - FG
É dos arquétipos
De onde sou oriundo - HM
Outra parte é ninguém:
fundo sem fundo. - FG
Fruto da real pobreza
Que subsiste em subterrâneos - HM
Uma parte de mim
é multidão: - FG
Onde me confundo
Perdido e solto no vento- HM
Outra parte estranheza
e solidão. - FG
Próprio de cada esquizofrenia,
Loucura e tristeza- HM
Uma parte de mim
pesa, pondera: - FG
Armadilha da mente
Na razão demente- HM
Outra parte
delira. - FG
Porque ajunta e separa
Une e dispara- HM
Uma parte de mim
almoça e janta: - FG
A fome das entranhas
Que se assanham- HM
Outra parte
se espanta. - FG
Parcela não forrada
da barriga- HM
Uma parte de mim
é permanente: - FG
Permanece desafiando
O tempo- HM
Outra parte
se sabe de repente. - FG
Pelos costumes abre-se
Na memória- HM
Uma parte de mim
é só vertigem: - FG
Por onde perpassa
A fuligem- HM
Outra parte,
linguagem. - FG
Ali está instalado
O verbo e a imagem- HM
Traduzir uma parte
na outra parte - FG
Aí reside o mistério
Que me chamou
Em versos o poeta- HM
_ que é uma questão
de vida ou morte _
será arte? - FG
- Se não for... Estarei
Entregue ao azar ou a sorte
Espero que Ferreira Gullar
Não se importe
Mas não resisti a apelo
Tão forte! - HM
Dueto: Ferreira Gullar & Hildebrando Menezes
Nota: Escrito para homenagear meu 700º poema
Publicado no Recanto das Letras