PESADELO

Todo o meu sangue

adormece numa mutação de gelo,

semeando no meu corpo o silêncio

de uma luz que oculta um véu fúnebre,

numa melodia dormente de rugas cansadas

que são espinhos na falésia da alma esgotada.

Nutro o oco sombrio

das caves da solidão cruel,

num murmuro cadavérico que uiva

nas mentiras herdeiras do meu relógio,

a realidade é um fantasma vadio no ventre

das minhas emoções baptizadas num vento de raiva.

Os gritos de ódio

dos meus olhos carentes,

são serpentes enrodilhadas

na cruz invisível do sofrimento,

envenenando as raízes do pecado

rastejante na saliva pegajosa da memória,

esquecida por entre as dunas da frustração

por onde caminho no dorso de um pesadelo.

Lavo o meu ego

com as cinzas do sol

apagado do meu solo

enlameado por um dilúvio

de incertezas que vestem o meu destino.

Cravo no rosto

a vice-versa do passado

sepultado num caixão de pó,

feito de lágrimas apodrecidas

no vómito de um demónio desperto

num ninho de nojo no meu respirar

os maus cheiros do quanto não tenho.

No nada das mãos

nasce a morte do tempo

trucidado pela secura da minha voz,

enforcada no eco da dor que assombra

as planícies com o choro do meu horizonte.