DE NÁUFRAGO A ESPECTADOR (Poesia filosófica)
DE NÁUFRAGO A ESPECTADOR
Por: Rosa Ramos Regis - Natal/RN - 2000.
Editado na Antologia Literária - vol. 4, da Sociedade dos Poetas Vivos e Afins - SPVA/RN - Natal/RN - 2005.
Em mar calmo... s e r e n o... eu vivia a remar,
com um vento ameno às velas enfunar.
Perigo não havia, ou se havia, eu não via,
de naufrágio no mar.
...
Estaria eu só, naquele imenso... mar...
tranqüilo... s e r e n o...?
Não consigo lembrar!
Só lembro que o vento mudou de lugar.
E agora, com força, passou a soprar
mudando, em momentos, o comportamento
das ondas do mar.
Estaria eu só?...
Ou tu estavas lá quando o mar... revolto... veio a dominar?
A mudança foi brusca! Porém enfrentei!
Sozinha ou contigo?... Confesso: - Não sei!
E com o barco à deriva, p'ra manter-me viva,
ao mar me lancei.
De "braços abertos" o mar me acolheu!
Tu, de lá... pensavas: - "Que pena!... morreu!
- Mas eu estou seguro! Tenho como certo.
E dou graças a Deus"!
Mas...
Tu estavas lá... no barco... a afundar!
Ou seria apenas ilusão de um náufrago... no Mar?!
Pois...
se no barco não estavas,
já que o mesmo afundou, e tudo que havia com ele levou!
Onde estavas... tu... espectador?
Estavas Seguro!... no porto!... a olhar
o sepultamento de um outro... no mar,
onde só lamentos despendes de ti, apenas com o fim de te conformar!
Não sabes, amigo,
que eu também posso estar bem juntinho a ti
só a observar aquilo que agora só pertence ao mar
e que valorizas com tanto ardor,
sem imaginar que é algo que passa... que acaba...
e não mais valerá para ti, em nada!
É como uma roupa
que velha, rasgada, deteriorada,
no lixo é jogada!
E que, em troca, lhe é dada uma nova, que irá seu lugar ocupar.
...
E assim se deduz que o espectador
não é só aquele que no cais ficou
olhando o naufrágio e rezando em sufrágio de quem naufragou
Mas...
o náufrago, também, pode bem estar
a ver o que ocorre, consigo, no mar,
ao se transformar no espectador do seu próprio naufrágio
sem desesperar.