Sobre o Encontrar a Si Mesmo

Antigo poema de tempos de escola. Passam meses, anos, e sempre me assusto quando leio.

Encontrarei-me. Tenho um encontro comigo

Mas eu falto às vezes e me desencontro.

Eu tenho dormido comigo, mas não me percebo.

Perco-me demais de mim, e me chamo inutilmente.

Vou para longe cego, e sinto.

De longe eu fico sentado, e grito.

Mais longe ainda eu vou, caminhando.

E é preciso às vezes que alguém me traga de volta.

E trazem aqui um completo estranho

Que há tempos não via - grande cabelo

Olhos perdidos, que não lembra.

À maneira do bom samaritano tento

Me descobrir de novo, no intuito

De me prender de novo com falsas taramelas.

E como agradecimento não encontro,

Por trazer de volta o que foi desgarrado do meu eu

Gratificações, senão palavras,

Que às vezes é o pouco que me resta,

Quando penso não ter nada nesse mundo.

Imagine, penso aqui em grilhões

Quando o resto resolver sair (e muitas vezes já saíram!)...

Mas sei que voltam, de um jeito ou de outro.

Não sei, sinto como esperança inquieta.

Há quem diga que o filho pródigo retorna.

A janela estará aberta, a porta é para sair.

Só voltará fortuitamente, envergonhado.

Ou envergonhados voltarão.

Ou fortes, tristes; Novos enfim

Para se perderem novamente em mim.