Humanos
Por que não sou pedra?
Por que não sou porta?
Por que não sou flor?
Sou isso, por não ser aquilo?...
Sou ela sem ser aquela?
Sou mesmo uma sonhadora!
Meu eu é um estranho
Que no ninho se embala
Não sentindo medo de nada
Sou pente sem ter cabelo
Cego diante do espelho
Bruxa de conto de fada
Por cada pedaço de mim
Visito a gruta secreta
Sou a entrada e a seta
Borboleta de asa quebrada
Biscuit de penteadeira
Sou mesmo caminho sem parada
Sem rima, sou verso de enfeite!
Que se debruça na janela
Laço de fita sem cor
Pensamento sem desatino
Rouxinol que não canta
Naquela gruta “el condor”
Fizeste-me tão mediana
Tão medíocre talvez
Sou um precipício
Que se engana
Sou para a abelha o néctar
Para a terra a cana
Nem sequer me disseste
O que vim fazer agora
Esperando sem demora
A morte que cedo se avizinha
Sou agulha sem linha
Que fura o vazio da aurora
Deus talvez reservou
Para si a divindade
E nos iludiu na procura
Da nossa santidade
Fez o poeta no momento
De Sua eterna loucura
Sou barqueiro
Que leva o nada
No mar de faces perdidas
Da roça a enxada
Do camponês vigilante
A chuva caída
Sou a ilusão
No momento do fim
Sou humana
E trago na alma
O perfume carmim
Guardando a pena da asa
Do meu querubim
Sou mesmo assim...
Enfim ...
Julia Rocha