Alma Coletiva

...Mas quem é Deus?

Tem Ele vida própria, absoluta?

É a dúvida, amiga imemorial?

A certeza, volátil formosura?

A divina voragem das horas?

Rascunho imperdoável? Lisura centenária?

Ímã abissal? Clareira só de encantos?

Corais imprescindíveis? Portais do coração?

Leveza andorinhal? Gerânios tresmalhados?

Amor comunitário? Angélico abandono?

A música da música?

Terremotos, dilúvios, cataclismas?

Enfim: Deus --- teorema intrigante

ou plena luz salvadora?

Deus: o crescente, a peleja,

o poente e a paz.

Os passos do Impossível,

a Voz que não se ouve

e que tu segues,

falso crente, falsa Voz.

Um verso imarcescível

numa folha velha ao vento.

O galo e a cigarra,

a alva e a tardinha,

a gestante e o estertor.

A estrela mais triunfante

sobre o abismo engolidor.

A procissão sertaneja

que avança exigindo água,

pão, terra e justiça.

(Mas que tudo, tudo devasta,

gafanhotamente).

É o corpo, mesquinho, individual,

e a alma, coletiva, universal;

a saudade, que tudo pode,

e estes versos, que nada pedem...

Só pétalas de luz.

Atlântidas brotando.

Estrelas deslumbrando.

Contemplações em transe.

Miragens imprevistas.