existir sem viver

Se as flores não lhe falarem da primavera

Se os sinos das igrejas não lhe falarem de fé

Se os olhares das crianças não lhe falarem da pureza

Não importa, você está cego

Não importa, você está surdo

Imerso numa indiferença

brutal e absoluta

E, o absurdo do tempo

Nos faz o paradoxo de nós mesmos

Nos faz o côncavo e convexo

Sem eixos

Sem imagens e reflexo.

Seremos sombra antes do advento da luz

Seremos a falta antes do ser

A essência enjaulada em corpo inútil.

Ainda que cortar os pulsos não signifique

nada ou muito pouco...

uma tentativa de autoflagelação ou suicídio.

Há um breve interregno

a aguardar o silêncio das flores

por sobre o ataúde

A ansiar pelos sinos das capelas

a chamar fiéis ou lembrar aos infiéis

de sua solidão crédula

Ou a catar nos olhares-menino

a pureza desafiadora do poder,

dos pactos,

dos silentes compromissados

com o poder ou com a servidão

e a sobrevivência radioativa.

Se as flores não lhe revelarem a primavera

E, nem o céu o infinito.

Estás diante da lápide fria

de um existir sem viver.

GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 01/03/2009
Código do texto: T1464125
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