_____ QUANDO MAIS, QUANTO MAIS _____
Quando mais precisei de ti,
Naquele sonho em que me vi...
Decidi-me não ver, nem ouvir.
Um sussurro assombrado e frio,
Frio e soprando minh’alma aflita.
Zumbindo e rondando dentro de mim...
Uma tempestade árida e atormentada,
Calada e murmurando sombrias vozes.
Vozes do além que bradavam do céu;
Na pedregosa margem — o rio desceu!
As veias da terra vão correndo para o mar...
O rio desce choramingando em desolado alvoroço.
O sol desponta em profunda melancolia inglória...
Ao ver o tal venerado, malicioso, saindo do poço,
Malogrado, salgado de mau grado e alargado espaço.
O rio desceu, torturando todas as almas vivas;
Na sombra escura assombrada — tombaram!...
Entro em mórbida e tenebrosa melancolia...
Mergulhei na correnteza calada, noite e dia;
Na profunda curvada tumba, ofegante e fria...
No meio da caverna sombria, temeroso estou.
Debruçado sobre uma pedra fria e enlodada...
A caverna me engolia em soturna demasia...
Salivava e me envolvia na garganta sombria e fria;
Fria que escorria sobre minh’alma, que se debatia...
A garganta nutria-se de minh’alma viva...
Num rito cálido, ia me sugando, pálido e amedrontado.
Nos corredores dessa angústia que sofria...
Avistei o regente em forma de gente — encapuzado!...
Esmiuçava todos que por ali ele ouvia.
Ó brumas rasteiras, traiçoeiras, em amarga fadiga;
Entalhavam-me na dor que me vencia em deplorável agonia.
Minhas visões eram ilusões estreitas, nessa escuridão vazia...
Entrava no meio do que imaginava ser o centro do nada...
Sentia um arrepio tremejante cortando-me em pedaços e ria.
Vejo o maltrapilho, trajado em farrapos de mendigo;
Na seita em que o rejeita e ceifa, deleita e deita...
Deita no mundo imundo, inundado de imundície,
Revolta-se ao queixar-se do Onipotente reluzente...
Traça uma irrelevante relevância dispendiosa...
Terror no ressoar da lânguida espada que gemia...
Rebate e manifesta um zunir de dor, calada e fria.
Sai uma lágrima rolada, derramada sobre a terra,
Formando um lago de sangue — sufocava-me o ar!
Quando supliquei a ti...
Quanto tormento senti.
Quanto mais me via em ti...
Foi quando mais sofri.
Quando mais precisei de ti...
Abandonado me vi!
Desprendi-me de mim e vaguei sobre
A luz escassa de minha ilusória destreza...
Imóvel fiquei!... Sentindo doloroso tormento —
Sonhei — um sonho arrepiante, agoirado,
Purgado de pecado e de doce mascado.
Ó triste e amargado laço, rodeado de mau grado;
Ó túmulo amargurado e encurralado, lado a lado...
Ó almas cruéis, naufragadas em flagelo gélido...
Um alarido lúgubre, trágica e rasgada dor no calvário;
O vigilante Dragão tragou e vomitou um vil renegado.
Nessa insatisfação reticência da ingratidão...
Transcende a iniquidade que dilacera o coração;
Sinto a tristeza invadindo minh’alma em pranto,
Vendo aquele oceano de lavas, sagrado espanto.
Meus Eus refletindo no espelho do meu Ser —
Acordei! Oh! Onde estava? Na caverna, no rio, no monte?...
— Na margem! Solenemente, dementementemente
Desolado e embriagado no meio das águas do mar...
Mar a jorrar o sal no ar, ardente e salgado lar.
Voltei onde imaginara estar — em meu amargado par.
Quem sou?... — Não sei! Quando mais, quanto mais
Me perguntava quem sou... — Não fui, nem sei se sou!...
Se sou quem sou... No tombo da tumba tombada vou...
Voo nas asas fúnebres da minha obscura aventura;
Abismo entre rochedos que voando vou..... Voo de dor!
Paulo Costa (Pacco)
Outubro de 2007