Minha Cirurgia...

Minha cirurgia...

Poet ha Abilio machado. 28012004.

Deitado e quase nu, descalço

A maca me leva

Uniformes em braços

Brancos me carregam

São anjos?!

Me tocam o corpo

Estou nu sob o lençól que é puxado

Naquela sala gelada

E esta dor me assusta

Mas seus semblantes

Me assustam também

O frio da agulha me chega

Estas luzes me ofuscam

Um esfilete me encostam ao peito

Meu sangue me esquenta

No barulho da serra

Tento fechar meus ouvidos

Mas escuto e sinto

No puxar do peito escancarado

__Aí está o dodoizinho.

Vamos começar...

Quem vai na perna

Quem cuida da limpeza

E quem me alcança a cola da alquimia

Quem vai ter o prazer de pegar no cabeção

Para ele não se molhar

Minha vida esperneia pela vida

Um dedo alcança o dente

E dois movimentos

Enrolou na gaze que já tinha à mão

Um cano me invade

Me sinto afogar

Minha respiração desfalece

O martelo do aparelho pára

Um alarme de voz aguda

__Está vivo ainda...

Está vivo ainda...

Meus corpo é alçado

Vejo o grupo de pessoas mascaradas em torno de um homem

Tem na face uma máscara

Canos de outra no peito

Um médico segura nas mãos

Um coração

Diz cutucando com os dedos

__Agora não, agora não!

Luto para parar

O absurdo

Começo do nada pensar que isto

Nada mais é que roteiro de filme

Ou talvez uma peça para montar

Todos correm tonteados

Já estão cansados

__Minha visão conseguiu chegar

até a vesícula pelo buraco que fiz,

queriam que estudasse mais

mas onze horas aqui dentro

vamos dar este fim

anotaram tudo

deixamos uma de lado

que ali como já esta morto

de nada adianta, guardemos esta para outro...

fechemos com cuidado para não ter de repetir.

Vi um pedaço de veia ser guardado

numa caixa gelada...

Todos andam se esbarram

Eu também queria, mas apenas flutuo

Vejo aquele ser amarrado

E o que corre são meus pensamentos

Ouço a conversa deles depois que me trazem de volta

Falam de tudo

Até comentam

Coisas que não vou dizer

Fui puxado de novo

E meus olhos apagou-se

E lentamente me pus a acordar!

De repente...

Me vejo renascendo...