Rito de despojamento: Travessia
Que Deus nos proteja
De nós e amoleça
O nosso coração.
Que Ele nos fortaleça
A fé, as amizades.
Que se desvaneçam
As feias nuvens,
Os amargos rumores.
Dissipem-se mágoas, rancores,
Os franzidos cenhos.
Desfaça-se o exagerado e desnecessário;
O apego que nos aprisiona
Descuide-se, baixe a guarda.
Contemos conosco e mutuamente
Em nossas reais e medonhas trevas,
Em temerosos e árduos combates.
Não estamos em opostos lados,
Não existem dois campos,
Estamos no mesmo barco.
Corramos e vejamos
Com clareza:
Deixemos inúteis fardos,
Nisso insistamos,
Abandonemos as amarras,
Deixemos pelo caminho, pelas águas
Absurdas bagagens.
Levemos aos pobres os excessos,
Soltemos nossas mãos,
O riso, os ombros.
Apressemos os passos,
Caminhemos.
Não somos deste mundo,
E para onde vamos,
Nada levaremos.
Deixaremos pretensão,
Cargos, afazeres soberbos,
Carrancas e poses.
Ganharemos novas e alvas
Vestes no saguão.
Com os velhos trajes
Ficarão todos os medos,
Todas as lutas cessarão.
Lá daremos vivas, glórias, aleluias,
Seremos felizes, libertos
De nossos desejos, vontades.
Cantaremos benditos, louvores,
Só um será o Senhor.
Diante dEle, a felicidade mais plena,
Eterna, a nossa mais profunda
E excelsa comunhão.