Transcendente
Contemplando belo luar eu me alienei,
e quis evadir-me deste chão turbulento,
para a estrela que reluz no firmamento,
ora me seduz à semelhança do meu rei,
em seguida me relega ao confinamento!
Sozinha tento me buscar entre portas,
desbravando vagas quimeras desertas,
Nada ou ninguém preenche as janelas,
Nada mesmo me observa, exceto elas.
Estrelas entre muitas, destaco a carente
que me quer roubar totalmente o calor,
a rasgar vastidão sideral de negritude,
que os poetas dizem ser um esplendor.
Assusta-me a vida no céu pendurada,
que, com perplexidade me arrebata,
visando encarnar a minha liberdade,
mas, amo prepotente, logo se afasta,
a que sua ausência fria eu não resista
e arremesse louca os cabelos ao vento,
via fluxo hipnótico do casual encanto,
finalmente me sinto partindo, e basta.
Sensação inusitada alucina quem voa,
não mais o chão alarmante me engole,
tão pouco o eco fatigante me atordoa,
a ação arriscada de ir longe me impele.
Atrás, pontos longínquos viram poeiras,
aos poucos vão dissipando as suas beiras.
a ação funesta e dores furtivas se esvaem
enquanto o crime e dor humana decaem.
Meu chão que não é mais meu cativeiro,
pois viajei e transcendi a corporeidade,
casulo desprendido me fez o jardineiro,
semeio só amor, precursor de felicidade.
Santos-SP-13/04/2006