O Mar
Nada me resta senão
Uma incansável preguiça
Para entender êsse mar
Que tanto se debate
E não fala o que sente.
Sòmente berra,
Se contorse e se mistura
Com areia e as pedras,
Procurando raízes,
Nas entranhas de um corpo
Do qual é maior parte.
É uma água que não se repete.
De raiva se espuma e
Se enfeita de esponjosa corola
Que brota da alma densa.
É um corpo sem membros
E a todos abraça.
É um corpo sem bôca
E a todos devora.
É um corpo sem dedos
E a todos acaricia.
O mar nos lambe os pés
Em falsa submissão.
O mar se desmancha em remorsos
E reacende na preamar.