houve um tempo
Houve um tempo em que o mar de fogo
não ardia meu peito preso da historia vital
que cada homem percorre no filo do seu cutelo
e eu tinha companheiros no dia para dançar
almoçando ate o por de sol fazer inveja
de sonhar toda a noite, serem nossa, num branco para o luar
assim, como quem abre entre as assas de duas pombas
uma bandeira branca encaixada na linha do ar,
para ansiar dele mesmo ser vento
eu crescia na idéia de tudo dar por que a vida era infinita
porque houve um tempo em que a humildade
e a casa e a pobreza, não tinham importância
e tu e companheiro igual significado
como amigo e alento
mas também houve um tempo
em que a luz do nosso interior era cinzas na crueldade
a vir
dos homens que se aferram, com medo,
a impor desejos, no sangue de quem caiu
porque também houve um tempo
para irrigar brêtema densa nos olhos dos filhos
e morte nas veias
e mães que perseguem eternamente um por que
nas janelas retidas da sua memória, que nunca se abrem
e esse era o tempo para eu perder a inocência.
E esse era o tempo para enfrentar-me com Deuses falsos,
sentir e comprovar que eram gigantes de Pedra
e junto a toda sua mentira minha alma velha falecer.
Porque houve esse tempo doloroso
preciso para renascer na Aurora da Vida
bebendo de seus lábios o néctar da verdade
para eu dos sonhos acordar.