Serei o que todos são
Chorar não chorarei pelos sofredores
arrastando seus pedaços pesados,
de sangue marcados, desagradecidos
pela vida que, entre amor e dissabores,
culminou com orquidário sem flores,
em resposta a sonhos não sonhados.
Oh! Temo eu sonhar além das marés
e ter a memória cega dos sentidos,
a não ver cor d’entardeceres lindos!,
Porque, se das ilusões for esquecendo,
fatalmente me abordará o inesperado,
causando a piedade e a incompreensão,
que agora me provocam comiseração,
enquanto avisto pessoas caminhando
e sempre as mesmas pegadas marcando,
pensando haver injustiça no sofrimento,
premiando com sombras o pensamento!
Serão minhas depois estas pegadas,
em resposta aquele sonho invisível,
proibido, escondido em tantas veredas.
Talvez todo o meu choro lamentável
inundará e amargurará outras vidas,
d’alguém como eu aqui mirand’céu,
cheio d’águas choradas, abençoadas,
identificando lá no alto o rosto meu
me esperando depois das alvoradas!
Quiçá Deus, o meu olhar não chore
as mãos vazias do nada mais caber,
e este meu pensamento carnal ignore
a maldade, a ponto de reconhecer
o milagre que dos céus me socorre,
a cada dia, dignificando o meu ser,
e ainda que floresceres eu não soterre
nos percalços que inda hei de vencer!
Santos-SP-23/03/2006