Um dia, quis trancar as portas do tempo
Tive inveja de sua imortalidade sem fim
Notei, porém que o tempo não tinha porta
Que eu sim, tinha uma porta em mim!
Descobri que esta porta era minha vida
Teimosa flor que decidiu florescer, enfim
No deserto de almas singularmente floridas
Que vicejam sem cor, num estranho jardim
Vi que a linha do tempo era indefinida
Que a minha, contudo, tinha início, meio e fim
E que somente poderia fazê-la mais cumprida
Se cultivasse o meu lado bom e não o ruim
Todavia, a minha cruel perenidade, esta sina
Que é um mal e também um bem, outrossim
Por ser finita, me revela uma sutil verdade
Que a vida é apenas o tempo que vive em mim!