Espontaneidade
O jardim repleto de minúcias
denuncia a mão que o cuida
e os olhos que ali param
não se preocupam
com a qualidade do adubo
com o suor que escorre
misturado ao sangue
de quem nele se machuca
para trazê-lo assim pronto,
disposto, preparado.
Entre jardim e admirador
repousa a alma,
essência vital, do semeador
não há jardins iguais
por mais iguais pareçam ser
desvelos de mantenedor.
As torrentes também
não haverão de ser as mesmas
a cada qual, reservado, seu grau
de destruição
a força do dedo que arranca
a maldade do pé que mortifica
a intensidade do ato falho
em suster, em amar, em nutrir
dia-a-dia ofício de serenidade
e paciência.
A revista que a tudo minimiza
em guarda, aclama
que exatamente tudo
está contido na receita bruta
não no sabor do líquido
que se dilui, eles dizem,
sem deixar nada de si
e brada padronicidade
mecânica embotada
alardeando com seus soldados
rasos
nada é insubstituível
nem semente nem resultado
nem as gentes.
O jardineiro observa as unicidades
Os pecadores pendulam cegos
pelos extremos
a revista não desperta.
A Vida permanece
fiel a si mesma
aqui e ali
com um risinho sarcástico.
LLima