Espontaneidade

O jardim repleto de minúcias

denuncia a mão que o cuida

e os olhos que ali param

não se preocupam

com a qualidade do adubo

com o suor que escorre

misturado ao sangue

de quem nele se machuca

para trazê-lo assim pronto,

disposto, preparado.

Entre jardim e admirador

repousa a alma,

essência vital, do semeador

não há jardins iguais

por mais iguais pareçam ser

desvelos de mantenedor.

As torrentes também

não haverão de ser as mesmas

a cada qual, reservado, seu grau

de destruição

a força do dedo que arranca

a maldade do pé que mortifica

a intensidade do ato falho

em suster, em amar, em nutrir

dia-a-dia ofício de serenidade

e paciência.

A revista que a tudo minimiza

em guarda, aclama

que exatamente tudo

está contido na receita bruta

não no sabor do líquido

que se dilui, eles dizem,

sem deixar nada de si

e brada padronicidade

mecânica embotada

alardeando com seus soldados

rasos

nada é insubstituível

nem semente nem resultado

nem as gentes.

O jardineiro observa as unicidades

Os pecadores pendulam cegos

pelos extremos

a revista não desperta.

A Vida permanece

fiel a si mesma

aqui e ali

com um risinho sarcástico.

LLima

Luciene Lima
Enviado por Luciene Lima em 12/03/2006
Reeditado em 23/11/2006
Código do texto: T122083