abandono
Quando o perfume abandona a essência
Ante a presença de calor
A combustão dos corpos
se perde no infinito
Quando o gelo dos icebergs
derrete cerimoniosamente
Ante a presença da maré morna
A combustão prolonga a sólida
presença
na forma lânguida
e líquida
Abundante vida
Que invade veias,
Frestas, arestas
Chão e céu.
Quando os sons anunciam
a sua presença
E, ecoam no corredor repleto de silêncio
e solidão
Abandonam as aves seus ninhos
Deixam a cria a esperar faminta
pela esperança de vida
Uma nesga de luz,
Um fiapo de alimento
Um fio de cabelo
Um recatado sorriso
A esperança do outro
Do arremessado vôo
Da algaravia das aves jovens
A treinar o canto e
o destempero poético das gralhas,
maritacas
Que passam em prece,
Anunciam a vida e o contínuo renascimento
Atravessam horizontes inteiros
E desembocam misteriosamente
Nesse triste entardecer
Repleto de chuva e lágrimas
É o frio de outubro
que surpreende
O meu coração
incadescente
que aos poucos abandona
o calor
e cristaliza com o vento.