OFÍCIO SEM DISFARCES
Os poros das palavras produzem
primevos temores: o susto
do primeiro choro.
Os poros das palavras acompanham
o andar dos dias: sanguessugas.
Os poros das palavras traem:
gestos gostos lágrimas
Na hora do adeus os poros se fecham
medicinalmente.
Os poros reproduzem-se nos que ficam:
abrem-se, abruptos,
à luz das quatro velas,
quando os afetos debruçam-se
à hora da despedida.
Matéria espírito palavra:
o respirar dos poros.
– Do livro BULA DE REMÉDIO, 2008/2009.
http://www.recantodasletras.com.br/poesiastranscendentais/1196294