Viagem simultânea
Viajei em mim
Por todo cerrado
Como sou linda!
Como é linda a flor do cerrado
Solitária em sua beleza
Sozinha na minha estrada
Ah! Que vontade estranha!
De onde vem?
E essas lembranças?
Esse desejo, essa dor
Em minha alma suada
Quase que queimada
Como as árvores desse cerrado
Muito mais suado e doído
Pelo fogo quase todo consumido
Ah! Que cansaço essa existência!
Quisera eu existir em qualquer lugar
Que me caiba, que me sirva
Qual será a passagem?
Será o céu do cerrado?
Tão triste, cinza
Ou será o meu?
Ora azul, estrelado
Ora cinza, escuro
Onde estará meu contentamento maior?
Minha estrela preferida
Que falta me faz teu brilho
Tua simples apariação
Me arrebata, me causa entusiasmo
Aparece nesse cerrado!
Ilumina-o... Ah! Vem me iluminar!
Vem, vem, vem, dá-te pressa!
Sim, sim, sim, apressa-te!
Alegra esse cerrado, já tão queimado
E esse meu ser desamado, lacerado
Porém, cheio de veemência
Brilha tua luz sobre esse amarelo do ipê
Sobre o branco singelo da bela flor de mussambê
Florzinha de beira de estrada
Tão bela e desamparada
Ah! Como se exalta!
Sentindo-se assim
Cheia de si, contemplada por mim
Será essa analogia real?
Será que ela tem mais de mim?
Ou eu possuo muito dela?
Breve foi a viagem pelo cerrado
Longa viagem em mim
Quando terá fim?
Chegarei ao pouso final?
Há porventura o fim?
Ainda o conhecerei?
Resta-me seguir viagem...