(Série Personagem n.14 )


"UMA RAINHA ESPECIAL"


Naquele dia, você partiu, e eu cá fiquei
com nossos doces petizes, tão sozinha
e infeliz, lamentando a minha desdita.
Uma saudade aqui aportou e eu chorei,
mal sabendo
que próxima dor logo viria
e que ninguém
(ai de mim) pena teria...
Meu amor, ahhh, quanto eu te chamei,
e
quanto eu, gemendo, a eles  implorei.
Eu não pude
mais te esperar, querido,
pois, fatal, senti o duro aço do punhal
no meu peito frágil, pela morte, ferido
e, do corpo em dor, saiu-me o espírito!
Entanto, quando chegaste - ó espanto! -
tamanho foi teu horror, tal a tua revolta,
que puniste-os
tu no rigor (mas não cedo)
obrigando-os a aceitar-me sua Soberana...
Com um gesto louco, na tua paixão insana,
coroou-me Rainha mesmo depois de morta.
...
 O mundo jamais esquecerá o
nosso afeto -
esse que nem sequer a
distância desfez:
Vês? Esse foi o
Amor dileto de Pedro e Inês! ! 

Poema de Silvia Regina Costa Lima
20 de julho de 2008





"C
omo isso aconteceu..."


Bisneta de D. Sancho IV de Espanha, e filha bastarda , nascida em 1320, Inês Pires de Castro fazia parte do séquito como aia de D. Constança de Castela, quando esta veio para Portugal, em 1336, a fim de contrair matrimónio com o Infante D. Pedro, filho de D. Afonso IV.

El-Rei nunca aceitou que o herdeiro ao trono se apaixonasse imediatamente pela dama galega, e com ela mantivesse relações amorosas, das quais nasceram três filhos.

Após a morte inesperada de Constança (a esposa) em 1349, e um provável casamento secreto com Pedro, a nobreza lusitana, inquietando-se com a influência que Inês e os irmãos exerceriam sobre a política do reino, podendo suscitar um envolvimento na guerra civil de Castela, em 1354, convenceu o monarca ao seu assassinato em Coimbra, no ano de 1355, por Álvaro Gonçalves, Pero Coelho e Diogo Lopes Pacheco, em sua residência a Quinta das Lágrimas.

Então, Pedro pegou em armas contra o pai, cercando o Porto, mas a intervenção do Bispo de Braga apaziguou tal desavença.
Falecido Afonso IV em 1357, Pedro assumiu a governação, levando a cabo uma trágica vingança. Do rei D. Pedro de Castela, logrou que lhe fossem entregues dois matadores, a quem executou, os dois tiveram os corações arrancados: um pelo peito outro pelas costas numa execução assistida pelo rei.


No Mosteiro de Alcobaça, D. Pedro I forçou os cortesãos a beijarem a mão de Inês, no  primeiro ato de seu governo foi declarar a sua amante Inês de Castro, Rainha póstuma de Portugal.

Nesse episódio, conta a história, que o novo rei mandou exumar o corpo da amada morta
, limpar-lhe cada ossinho -  e coroar o cadáver que fez sentar no trono, em 1361 e submeteu a corte a cerimônia do beija mão que acontecia na apresentação da nova rainha. 
A mão de um cadáver de dois anos!!

1361: Do Mosteiro de Santa Clara (Coimbra) para o Mosteiro de Alcobaça, D. Pedro I manda trasladar os restos mortais de Inês de Castro


Estavas, linda Inês, posta em sossego,
Dos teus anos colhendo doce fruto,
Naquele engano da alma, ledo e cego,
Que a fortuna não deixa durar muito,
Nos saudosos campos do Mondego,
De teus formosos olhos nunca enxuto,
Aos montes ensinando e às ervinhas
O nome que no peito escrito tinhas.

Luís Vaz de Camões
- Os Lusíadas - Canto III - Episódio Inês de Castro


Curiosidades:

"Agora é tarde, Inês é morta".
Poucos são os que nunca ouviram ou mesmo disseram essas palavras querendo mostrar que algo passou muito do tempo.
  Quem é essa Inês? Como ou quando morreu? Se, em nosso país, dúvidas é o que há quanto às mencionadas questões, no além-mar, mais precisamente, em terras lusitanas, não será português aquele que não souber tratar-se dessa Inês, a dama galega - Inês de Castro.
Origem da frase: Quando Pedro voltou, e perguntou por ela, sua Inês, querendo vê-la, disseram-lhe: Agora é tarde, Inês é morta!
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Conta-se também que Pedro teria promovido além do coroamento do cadáver de Inês de Castro, do famoso e fúnebre beija-mão, diz-se ainda que o soberano tivera o cuidado, ao dispor o seu túmulo e o de sua amada no referido mosteiro, de postar as lápides não lado a lado, mas pé com pé
Para quê? Quando tivessem, ambos, de se acordar no juízo final, poderiam um olhar nos olhos do outro.

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Isso é que foi amor...minha nossa...


SILVIA REGINA COSTA LIMA
Enviado por SILVIA REGINA COSTA LIMA em 17/09/2008
Reeditado em 21/12/2009
Código do texto: T1183158
Classificação de conteúdo: seguro
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