Cantiga de um outro tempo e lugar


Carrego comigo uma canção que parece não ter fim

Ora ela me faz rir de felicidade

Outras vezes me enche de saudade

É uma lira que mora no meu peito

A sussurrar poesias no meu sonho

Embalando doces cantigas nas minhas noites

É um torvelinho que não acaba

É um vendaval que vai e volta

Têm dias que me envolve de carícias

Faz do meu viver um paraíso de delícias

Mas têm noites que, então minha alma chora

Derramando saudades pela vida afora...

 

Essa canção que se aninha em minha alma

Muitas vezes renova meu caminho

Conduz meus passos quando estou sozinho

É luz quando de cegueira me cubro

Nas noites escuras é farol e refúgio

É bálsamo suave que me cura as dores

Quando o coração suspira de amores

É meu norte,  aponta-me o rumo, é minha guia

É estrela que brilha, é conforto e alegria

No atropelo das horas, me acalma e revigora

Dá-me as mãos estendendo suas rimas

É razão para mais de uma vida...

 

O tempo passa, renascem as esperanças

E ao meu lado essa canção dolente

Que ora diz coisas de antigamente

Ou sopra-me aos ouvidos as novas do agora

Ela se metamorfoseia nas minhas palavras

Confundindo-me o pensamento e a mente

Faz de mim, prisioneiro de suas melodias

Que rodopia feito dança num salão de fadas

Há versos que dizem de sina aventureira

A perambular histórias de fogo e de paixão

Nas marcas do tempo ela deixa sua escrita

O seu nome vagueia nas asas da ilusão...

"Ah, se a saudade pudesse
De  repente, sair de 'fininho'
E, em silêncio, deixar meu coração sozinho
Até esqueceria as vivas lembranças
Que moram comigo, na rua do amor...

Mas, então doravante
Seria um autômato andante
Entre o sim e não, seria ninguém
E isso eu não quero, porém
Se de saudades viver carente..."

 

Torno a sentir a canção que vive dentro de mim

E enxergo vivas a bailar as minhas saudades

Reflito minhas vivências e olho meu passado

Sou viajante de um tempo que não tem fim

No vento que passa esqueci as vozes do ontem

Na brisa de outros tempos projetei meu amanhã

Vivo na encruzilhada das minhas indecisões

Por onde vou muitas vezes nem quero ir

E, densa, suave e bela ela vaga pelas minhas horas

Abre as portas dos meus sonhos, prediz minhas dores

Destino meu que pulsa nas entranhas do mundo

Eterna canção de todos os meus amores...

 

                                           (in “Lições da Alma”)

 

                             Vinhedo, 16 de setembro de 2008.