Bem te vi, Bem-te-vi

Silvania Mendonça Almeida Margarida

02 de novembro de 2002 em Belo Horizonte

Dedicada a todos que conhecem a poesia e sabem vivê-la no dia-a-dia.

Bem.te.vi

Que me visita

todos os dias

com uma

cantiga antiga,

na janela

da minha varanda.

Seu canto nada finge,

como vento em folha de árvore

que se mostra e balança,

nunca mente,

tendo a ousadia

de fantasiar paisagens.

Passam-se as tardes,

E outras e outras tardes-noites.

Não vejo você.

Porém, quando você distante,

escuto de longe

seu mavioso canto

de outros muros e quintais.

E medito, paulatinamente,

o mundo só existe

dentro do seu canto.

Mas e o meu canto ainda desfeito?

Ainda não sou Bem.te.vi

Onde está meu canto?

Está na eleição das estrelas múltiplas?

Em aprendizagens infinitas?

Em autismo encontrado ao canto?

- Quem é você? De onde você vem, Bem.te.vi?

Por quais caminhos voou? Por que aqui pousou?

Quantos vezes pára na natureza divina?

E você responde:

- Bem te vi.

como sob o vento a árvore que o doa;

O resto é mistério.

O que delimita a relação

das palavras e objetos?

O que delimita o silêncio?

Seria um eterno segredo?

Bem.te.vi, Bem.te.vi

Mas, realizada, noto:

- Você não só existe

dentro de um mundo

intricado e absoluto.

Não resistiria a tanta falta

de sobrevivência divina.

Do seu mundo de canto,

você desafia ventos antigos.

A sua aspiração é o sonho

de sempre entoar Bem te vi.

Quando você vem

Bem te vi a toda hora

O canto não se esgota

As palavras,

Canta com elas.

- Bem.te.vi, Bem.

- Bem.te.vi.

- Bem.te.vi

Que traz notícias de lá,

Do pai que já se foi, e

do irmão que foi atrás.

Que traz notícias de cá

Da mãe vívida Teresinha

Em vivi

Enevi

André diz.

E o vê

Bem.te.vi

Cada voz que canta o amor

Não diz tudo que quer dizer.

O homem sempre procura saber sua origem.

E o Bem.te.vi - de onde veio?

donde poetas freqüentemente cantaram?

Em que sombra

em que nuvem

anda galopando o seu sonho?

Para onde flui o rio

do seu pranto

Quando seu canto é triste?

Através dos tempos

Persistem também seus caminhos

Pois quando levo minhas mãos,

você voa sem lhe alcançar.

Mas no outro dia, amanhecido dia,

Está sempre lá

Bem.te.vi. Bem.te.vi.

Bem te vi.

E seus olhares-passarinho

Prescrito do longe e, às vezes,

do nada.

Diz intensamente

como se falasse entrelinhas.

Trina o seu canto suave.

Silvania, estarei sempre aqui.

Chame sempre por mim.

por que

Bem te vi, bem te vi.

Silvania Mendonça
Enviado por Silvania Mendonça em 27/08/2008
Reeditado em 07/01/2010
Código do texto: T1147779
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