A Velha Cega
A velha cega me olhou estranho,
Nunca vi dor daquele tamanho,
Seus olhos opacos me penetraram
Mas nada em mim encontraram.
A velha cega ajeitou a manta,
Tanto frio, chuva brava.
E como ali estava,
Chamou-me para a janta.
A velha cega que eu via,
Que ver mais que eu podia,
Serviu no prato nada
E comeu como esfomeada.
A velha cega de olhos claros
Mostrou-me seus bordados
E de novo olhou meus olhos
Desvendando seus mistérios.
A velha cega olhou contente
Um canário em seu batente.
Daquela chuva vinha seu canto,
E era um canto e tanto.
A velha cega ficou séria
Ao acabar com esta espera.
E só ao ser como ela
Pude ver como era bela
Aquela curta vida
Hoje perdida