A Velha Cega

A velha cega me olhou estranho,

Nunca vi dor daquele tamanho,

Seus olhos opacos me penetraram

Mas nada em mim encontraram.

A velha cega ajeitou a manta,

Tanto frio, chuva brava.

E como ali estava,

Chamou-me para a janta.

A velha cega que eu via,

Que ver mais que eu podia,

Serviu no prato nada

E comeu como esfomeada.

A velha cega de olhos claros

Mostrou-me seus bordados

E de novo olhou meus olhos

Desvendando seus mistérios.

A velha cega olhou contente

Um canário em seu batente.

Daquela chuva vinha seu canto,

E era um canto e tanto.

A velha cega ficou séria

Ao acabar com esta espera.

E só ao ser como ela

Pude ver como era bela

Aquela curta vida

Hoje perdida

Fábio Codogno
Enviado por Fábio Codogno em 30/07/2008
Código do texto: T1105362
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