SAPATEADO III
Ouve menina... Escuta ao longe o som das castanholas.
Estás vendo? Hoje, é a semente de tua semente,
resquício de tua raiz e herdeira de teu vazio
que ouve o som alucinado de tuas castanholas...
Meu Deus! Por que tinha que ser assim?! Por quê?
A música tocou e tocou. E tocou repetidas vezes...
Mas, o bailarino se negava a sapatear, lembra?
Até que a música cessou.
Acho que se gastaram as castanholas.
E sabes o que aconteceu?! O bailarino se resolveu.
Começou a sapatear enlouquecidamente
Porém, não havia mais música...
O viveiro se encantou por outra semente
que de outro vazio vingou.
E agora, à noite e ao dia as castanholas batem,
num acorde de tortura que desencontra
no ato de abraço do gol...
Porque este foi contra!
Assim, numa masmorra, em profunda agonia,
morre um bailarino sapateando...
Acho que foi bruxaria, porque na outra sala
a música segue tocando pra semente que escorrega.
E o vestígio da tua raiz às vezes plácida,
sonhando concórdia, outras em desespero se entrega,
quando sozinha e assustada com o exagero
de tanta chuva ácida.
Ensandecida chora, definha e implora misericórdia...
Sei que o sapateado te fascina,
mas, por favor, menina,
pede pra ele parar.
Leva as tuas castanholas
e bendiz o fruto do girassol
que quer com outra semente deslizar.
Vai bailarina, dança, rodopia
Já que no sapateado dessa poesia,
ao som de tuas castanholas,
hás de livrar-te enfim, desta sina.
E entenda afinal, que essa música só deve tocar
pra quem realmente não tenha receio de sapatear.