(Personagem n.8)
Sim, eu tive receio... tive muito medo...
Era tudo demais, tudo era em excesso.
Eu vivia naquela ilusão de ser sucesso,
pensando comigo mesma, em segredo:
E quando tudo se acabar e eu soçobrar?
Quando não mais puder beleza ofertar?
Ah! Que dor mais atroz quando - a sós -,
no silêncio do camarim, eu via meu fim...
Não me importava que ainda aplaudiam -
só que me deixariam (um dia) - e ririam.
Na intensa tristeza, lágrimas me vinham,
e ninguém entendia minha alma desfeita,
minha indecisão...a solidão e a melancolia
pela sina de ter que ser mais que perfeita.
Assim foi que eu me retirei da cena cedo -
me isolando, me condenando ao degredo.
Nem queria, na verdade, mas eu já sabia:
permaneceria sempre a diva imortalizada,
sempre a mais bela... a deusa mais amada,
sem nunca mostrar-lhes minha outra faceta.
Eu paguei caro por isso (que preço amargo)
entanto, o mundo só conheceu - "La Garbo"!
Poema de Silvia Regina Costa Lima
20 de julho de 2008
(I want to be alone)
GRETA GARBO
Texto de Silvia Regina
Greta Lovisa Gustafsson (Estocolmo, 18 de setembro de 1905 - 15 de março de 1990) é o nome completo da atriz sueca de cinema, naturalizada norte-americana, radicada nos EUA desde 1925, conhecida por "A Divina" - uma das mulheres mais marcantes do cinema e de seu tempo - e muito já foi dito sobre a mulher de rosto perfeito, e incrível fotogenia.
Aos 15 anos, órfã de pai, deixou a escola para trabalhar como balconista, e em loja de modas. Descoberta pela publicidade local, foi convidada para figurar, como banhista, num pequeno filme. Entrou para a Real Academia de Arte Dramática, e no ano seguinte faria o primeiro casting para cinema. Trabalhou e se relaciou com Syiller, que lhe deu o apelido de Garbo, não se sabe muito bem porque. A celebridade viria nos EUA, trabalhando no cinema mudo que, transposto para o cinema sonoro, não perdeu em qualidade devido à sua voz profunda.
Uma mulher bastante diferenciada para sua época, sem dúvida nenhuma. O seu ar andrógino, sua bissexualidade, um jeito frio e muito reservado, ajudaram a criar seu mito.
Uma mulher geniosa, inteligente, depressiva, arrogante, sofisticada, imperiosa, impiedosa, moderna, divertida, narcisista, autoritária, hedonista, insolente, quase perversa, e em tudo excessiva - tinha paixões complicadas e misteriosas e passou a sua longa vida sem nunca casar, sem ter filhos, e tendo alguns poucos casos amorosos com homens mais velhos e dominadores, como a figura paterna - relacionava-se mais ainda com as mulheres. O medo de precisar de novos abortos ainda cedo a faz desistir de ter muito sexo, mas não das relações afetivas fortes que mantinha com pessoas dois sexos.
Sempre muito indecisa e precisando ser comandada (um aspecto muito contraditório numa pessoa tão famosa e autoritária), desejava receber ordens de alguém de pesonalidade mais forte que a sua e também receber orientação, e ela tanto ouviu alguns conselhos equivocados que perdeu grandes chances de bons filmes, de ter uma vida mais social e feliz e de ter filhos, que poderiam ter amenizado seu caráter extremamente melancólico e teimoso.
Recebeu convites de casamento de pessoas famosas e influentes, mas jamais quis pertencer, de fato, a ninguém - com medo dos casamentos mal sucedidos que conhecia.
Sempre tímida e introspectiva, ainda por cima sofreu com a traição de amigos bem próximos e sofreu com a crítica sobre seus filmes, o que a fez mais recolhida e solitária. Ela tinha pavor à traição e também a fracassar - sempre perfeccionista. A opinião alheia tinha muita importância para ela e assim sofreu com isso a vida toda.
Ao retirar-se assim cedo - e manter-se completamente reclusa - ela criou um mito forte e indestrutível, ainda que baseado em seu pavor do ridículo e do escárnio público. Sofria com as críticas, por mais simples que fossem, e se recolhia a tal ponto que não saia sequer para ir ao médico ou dentista! Entrava e saia dos lugares pelos fundos, evitando qualquer mínimo contato com as pessoas.
Garbo, assim temperamental, arisca e esnobe, afastou os grandes diretores de cinema de si. Foi invejada, amada e mesmo detestada. Mas sua imagem, a que nos ficou, é a de uma estrela, sem dúvida e será cultuada para sempre.
Em 1955 recebia o Oscar da Academia pelo conjunto da sua carreira, mas não foi buscá-lo. Saiu de cena no auge da fama tendo conquistado um lugar único na 7ª Arte.
Reflexão: Tudo isso vem a me provar que os artistas que invejamos, por mais glamurosos e ricos que sejam, sofrem até mais do que os simples mortais que nos consideramos - mesmo que usufruam de tantas mordomias. O peso e a obrigação de ser sempre famoso, belo, interessante, e jovem, os torna mais que vulneráveis, gera enorme depressão, levando-os a tomar atitudes excêntricas, limítrofes e eles terminam por se destruir, cometendo suicídio, direto ou lento... que pena!
Uma última curiosidade: Ela detestava seu nome, Greta, e em família só a chamavam de Kata.
Redigido por: Silvia Regina Costa Lima
Filmes - texto da net
Trabalhou em filmes de culto como "Amor", 1927, "A Mulher Divina" e "A Dama Misteriosa", 1928, "O Beijo", 1929, "Romance", 1930 "Inspiração", "Mata Hari", 1932, "A Rainha Cristina", 1934, "Ana Karenina", 1935, "Camille", (para os críticos o seu melhor filme) e ainda "Margarida Gautier", 1936, "Maria Walewska" (1937) "Ninotchka", 1939 e "A Mulher de duas caras", 1940 último filme em que entrou.
Em virtude do mau resultado do filme Duas Vezes Meu ela se retirou das telas e nunca mais retornou, nem mesmo para receber o Oscar Especial que a Academia lhe concedeu em 1955.
FRASES SOBRE GRETA:
Marie Dressler (1868-1934), atriz: "Garbo é solitária. Sempre foi e sempre será. Vive no âmago de uma vasta e dolorosa solidão".
Alastair Forbes: "A escandinava mais melancólica desde Hamlet.
"
Barry Paris (1948-), jornalista e biógrafo: "A Mulher do Século - que passou metade dele tentando se esconder"
David Robinson (1930-), historiador de cinema: A profundidade e a intensidade de sua interpretação transformavam tudo em que atuava.
James Card, curador: "É a maior que já houve e que jamais haverá no cinema."
Silvia Renate Sommerlath (1943-), rainha da Suécia: "Ela é mágica!"
Sinclair Lewis (1885-1951), escritor: "Digo que não há mistério algum. Ela é normal. Garbo é a única atriz que só representa na tela".