Cavaleiro Imortal
Em um tempo suspenso
Onde o desdobrar das horas
Não consola
O nascer do sol a cada dia
Não renasce
Serve-se de conselho alado,
Mais forte que um abraço,
A compensação do que serviu o passado
Assim tenho um prato inteiro a devorar -
Ainda que frio;
Mesmo que cheio de gelo.
Contento-me em fugir ao irreal,
Pois o calor dos olhos amigos
Não mais existe
- e quando viviam ontem, hoje sei que pouco aquecia –
Já que, como tudo,
Isso também um dia se foi
Deixou um vazio em minha alma:
Deveras se foi...
Não cavalgo hoje como um cavaleiro sem destino
Esse, que muito me serviu,
Deixou-me de lado
Trocou de lugar com a solidão
Não entenderão meus passos
Os que não correram a caminhada que corri -
Caminhada majestosa...
Quem não te viu, nunca a chamou -
Eu, que sou familiarizado,
Chamo-te vida.
Para os que estão no começo
O vão que os sussurros do vento trazem não existe:
Há coisas belas demais para se admirar
(Creio que foi tudo mais fácil aqui),
Porém eu retorno.
Mesmo sem ter feito caminho algum, retorno:
Meu coração é pai da solidão.
Venha, venha, ó envelhecer do tempo,
Cumprimento-te com a embriaguez da velhice
E nunca com a sobriedade,
Porque o que mora é o que corresponde
E há em mim pouco do futuro,
Há sempre pouco do futuro...
Venha,
Venha, ó tempo,
Meu eterno e fiel amigo,
Tudo me abandonou
E tu persistes, ainda que muito triste,
Persistes
Cansado e desamparado
Cá está você:
Cavaleiro Imortal.