Aos pés da cruz
Edson Gonçalves Ferreira
Hoje, sou miserável
Senhor, eu não digno que entreis em minha morada...
O que me salva é a minha poesia
Espécie de oração com que ascendo até Deus
Só porque Ele é a pura Beleza e a pura Misericórdia
Mas já fui mais contemplativo, mais espiritual!
Quando criança, li todas as biografias de santo
Todas que caíram na minha mão
Da Biblioteca dos Franciscanos, da Ordem Terceira, do Mosteiro...
Usava o cilício para conter o que eu achava que era pecado
Tinha até pregos dentro dos sapatos para a mortificação
Cantava as missas todas e rezava, como rezo as horas canônicas
Que, mesmo pecador, até hoje rezo
Hipócrita nunca fui, sei que não digno
Mas enquanto queria ser padre, meu era santuário
Quando li a vida de São Francisco queria pelos menos uma chaga
Quando li a vida de Santo Antônio, queria falar como ele
Invés das chagas, da oratória
Deus me deu o espinho da sensibilidade
Ele me fere em todos os pontos
Sou estigmatizados pela poesia
A cruz que carrego, mas aos pés dela, há muitas flores
Tão perfumosas que agrada até Deus.
Divinópolis, 15.07.08