Prelação A Sombras
Resigno-me à opacidade,
mistérios da sombra
da qual nuances de claridades bruxuleantes
emergem imperfeitas
a desvelar signos de fundo.
Presença em terra da deusa treva
que ilumina, expelida
para que da claridade
crie um mundo indistinto e sem limites.
Claro e escuro
turvas transparências.
Amantes em essência
na dança opaca da vida
sem sentido com luz.
Ah! O temor da eternidade
desvelado no palco
instintivo de luzes votivas.
Quero-te húmus
denso e penetrante.
Quero-te sombras
a revelar-me a beleza do ínfimo
escondido de fundo.
Difusos clarões
de sonhos vívidos
sinistra inquietude
do silêncio eloqüente
sombrio-sem véu.
Quero-te sombras nuas
tal como a um ator de Teatro Nô
misterioso fascínio
do escuro evanescente de nós,
platéia!
Sem anestesia do brilho
espetaculoso
sobra-me o rubor
esgueirante de face
penetrante na escuridão
que se desfaz em umidade latejante.
Esconderijos de mim,
estou nua,
à mostra
atriz sem maquiagem
máscaras de carnes expostas
posto que anseio a poeira acumulada
da passagem dos tempos.
Imprecisão
Traços
Difusões,
fogo-fátuo imponderável sombrio
da condição humana.
Ilusório jogo de não luz
Desvios ou linhas de fuga.
Pequeníssima grandiosa arte
que se aceita
imprecisa
imaginação sedutora
de um candelabro no chão.