Evocatória

Mundos que habitais este meu ser desconhecido!

Lúgubres, vívidos, robustos e melancólicos.

eu vos convoco, ora à força, ora em bucólicos

devaneios me desfazendo

vos convoco conforme a vossa secreta essência

placidamente lírica ou em sensual efervescência.

Vinde, queridos transes, que esta alma já cansada

das coisas desta esfera evoca desolada.

Vos alcançar em sonhos já consinto.

Vos possuir! Se vos possuo, minto,

contentando-me em ter só vosso espectro

conforme o idealiza o pensar decrépito.

O meu discurso lancei aos quatro ventos.

Ouve-me o céu, os campos sem tormentos

em angélica mansidão repousados.

Possa arrancar com grandes pensamentos

do mundo real os vários firmamentos

da matemática razão ignorados,

aí, bem acima dela em ventura ocultos,

sagrados na imensidão. Eternos vultos!

Eu vos convoco com a mansidão canora

de quem quer muito, o muito ignorando,

que o valor do tesouro que se ignora

vale mais, mais sublime é que milhar contado.

Vinde a mim, ansioso vos procuro

angustiado de vos encontrar às vezes,

outras calmo, risonho e puro,

Inferno italiano, mar dos portugueses,

Homem em Pessoa, céu dos gregos Deuses,

ou empíreo de luz Goetheano

que a tanto trancende o que é humano!

1996