Prece do Psicanalista

Senhot!

Psicanalista dos psicanalistas,

Deixa que eu me deite em teu divã

E dá-me o teu apoio de cada vez

Que, deitado no divão da minha sala,

Alguém contar com a minha ajuda!

Dá-me sabedoria Senhor, para que eu

possa alcançar o âmago da alma humana

Criação tua e somente tu a conheces

Em sua essência e toda transcedência.

Dá-me Senhor, a pacieência necessária

Para ouví-lo, ouví-lo e ouví-lo

Em um esforço (vezes cansativo),

Para interpretá-lo corretamente,

Sem violenta demais o seu Id.

Ir, vagarosamente, afastando do seu Ego

- em um trabalho penoso e acurado -

Todas as marcas fixadas pelos traumas,

Advindas de toda uma vida passada:

Longa, distante, embrionáia até...

Senhor! Sabes que não é fácil

Tentar consertar o cerne da tua criação!

Faze pois que me chegue a intuição

na hora certa para a ajuda necessária.

Dá-me humildade, Senhor!

Humildade para reconhecer e aceitar

as minhas limitações... e, caridade

Caridade para com os que me chegarem:

Dá-me a honestidade de parar

Quando em verdade não me sentir capaz

de prosseguir e ir mais fundo,

e tocar nas cordas, as mais sensíveis

(e daí, talvez, as mais vitais),

E, ao invés de ajudar, eu desajude;

Ao invés de os libertar, os escravize

E os torne decrentes de si mesmos,

De mim, de Ti, da Vida!

Senhor!

Tu escrevestes bilhões e bilhões de histórias

Das quais, cada criatura tua é um volume

único, original, inédito!

Não deixes que eu os confunda

Nem procure semelhanças,

nem faça comparações.

Infunde-me o Amor, Senhor!

Aquele Amor maior e universal

Para que eu veja a cada un

Sob os meus cuidados profissionais

Como parte de mim que não sou eu;

É outro que sendo parte do outro

Já também não é aquele...

É ele mesmo, somente ele

Inteiro, completo, verdade, mistério...

Mistério deitado em meu divã!

Dando-me pedaços esparsos e diversos

De um quebra-cabeça de N partes,

Confiante de que eu os unirei

Fazendo um todo e lho aprsente

Arrumadinho, como se eu fora

um mágico ou um Deus, dizendo-lhe:

Eis aí!

Juntei todos os cacos que encontrei

Espalhados, soltos, no seu chão interior;

Cole-os um por um, peça por peça

De cada parte, reunindo-as uma à uma

E, por fim, fiz dos pedaços de você,

Não um você novo, mas um você real,

Você somente, você original,

Autêntico e único e por isso valioso!

Ah, Senhor!

Mas eu não sou Deus; eu não sou mágico;

Sou, apenas, também, mais um volume

Da coleção divina da qual és o Autor!

Ensina-me, Senhor, a ler com entendimento

Buscando na verdade o que queres dizer

Pois não é fácil interpretar os textos

E tenho medo de errar, Senhor Meu Deus.