SONHO VIRGINAL

Meu doce e suave Amor...
Deténs a força de Morpheus
ao arrasar os planos de Phobetor
ontem haviam sombras acorrentadas
nos álamos, na rua dos Selvagens,
reconheces o vento incomum?

...o sopro irmão de Zephyrus
assovia aqui, também 
de forma diferente para mim
no hálito de alguns filhos dos silfos:
canta encanta e desencanta...
desencanta canta e encanta...
encanta canta e desencanta...


A medida que se adentra
no interior das brumas
a concentração pesa nas pálpebras
(a meia luz te revelo um segredo:
nem todos respeitam
a chama energética das fadas)
contornos vão se mesclando
apresentando o bruxulear das velas
nenhum fogo é aceso
sem a presença das dançarinas
- as salamandras

Li naquela tua última carta
linhas de indignação, 
inconformismo e o ar_dor 
O que adianta chorar pelos presos 
nos troncos nos umbrais?
Onde o que é vivo só parece estar vivo
há muitos falsos animais
hipnoticamente esculpidos:
- Quem é bisturi esterilizado
quem têm na ponta dos dedos os raios,
do verdadeiro choque...?

Perante a desgraça
quem foi caçador 
hoje é vítima
e... amanhã será remédio

Esfrego na tua face parte 
da tua confiança estóica
é justo que o XII 
Canto do Purgatório
amenize neste século,
caçaremos quantos vampiros puder:
a força do vento nos galhos
os enterrará 
para os que tem o conhecimento
do que é esculpir...
tudo o que é torto 
na hora certa desentorta
a ciência trabalha para a exatidão

...o sopro irmão de Zephyrus
assovia aqui, também 
de forma diferente para mim
no hálito de alguns filhos dos silfos:
canta encanta e desencanta...
desencanta canta e encanta...
encanta canta e desencanta...


Forjem tuas espadas
ao som dos instrumentos de percussão
há tempo entalho o mogno
dando um leve acabamento
com a língua da lima 
que tenho em mãos
por trás de uma cortina esvoaçante
sobrevive a transparência 
das pupilas 
mais acesas 
mais douradas
do que duas gemas de topázios
restauro patinas com projeções [...] 
junto a acréscimos 
da neutralidade da cera 
mais a doçura do azeite
que ornamenta qualquer tipo de leito
que se assemelha muito
aos baldaquinos do século de Luís XVI.

Todos os vivos que parecem vivos
estão vivos?

Rosangela Aliberti
São Paulo, 17.V.08
art by Josephine Wall